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Massacre no Quénia: não à barbárie nem à indiferença

Moção proposta pelo Bloco de Esqurda na Assembleia Municipal de Lisboa em solidariedade com as vítimas do massacre na universidade Garissa e o povo do Quénia aprovada por unanimidade. 

Moção

 Não à barbárie nem à indiferença

 Considerando que:

 

1. Na madrugada do passado dia 2 de Abril, a milícia fundamentalista Al Shabab surpreendeu jovens estudantes da universidadede Garissa, no Quénia e chacinou barbaramente 148 deles, ferindo ainda com gravidade muitas outras centenas;

 

2. No dia de 02 de Abril, em nome da fé falou a barbárie e de facto, quem matou os estudantes da universidade de Garissa fê-lo simplesmente para lhes negar o direito a ter uma fé diferente;

 

3. Desde da Primeira Guerra do Golfo na década 90 do século passado, desenvolveu-se a uma sinistra teoria de choque de civilizações que sustentou uma outra aberração ideológica, a da guerrainfinita. Quando, na verdade, desde então para cá, o que temos assistido é uma guerra de barbáries;

 

4. A teoria do choque das civilizações, da guerra infinita e do fim da história como forma de gestão geopolítica das relações internacionais tem gerado mais guerras, mais misérias e o crescimento de ideologias proto-fascistas que se alimentam do ódio como instrumento de luta política;

 

5. Estas guerras e seu corolário de miséria destruíram as instituições de estados que tinham fracos alicerces democrático sem muitos países, rebentou com os equilíbrios nas relações sociais e institucionais, gerando desconfiança e vazio político e descrédito das tradicionais forças políticas e as suas formas de actuação; 

 

6. Esta desconfiança e o vazio político foram reapropriados por forças políticas reaccionárias, mais particularmente, a extrema-direita e os fundamentalistas religiosos, nomeadamente islâmicos;

 

7. O crescimento da extrema-direita e do fundamentalismo islâmico resultou na instrumentalização das identidades e cristalizou os ódios;

 

8. A proliferação de seitas religiosas que pregam o ódio e a morte banalizou-se e assistimos a ocorrência de atentados contra pessoas inocentes com uma frequência nunca antes conhecida;

 

9. Estes atentados que têm custado a vida a milhares de pessoas um pouco por toda a parte e causado uma imensa indignação,sobretudo quando, ocorrem no Ocidente, não têm tido o mesmo impacto quando acontecem noutras partes do mundo, como se provou agora pela quase indiferença com a chacina de Garissa;

 

10. Depois da derrota moral e militar do nazismo e das outras atrocidades históricas, depois das conquistas democráticas sobre os direitos, liberdades e garantias fundamentais que assentam no universal valor intrínseco e indivisível da humanidade, nunca será de mais reafirmar que todas as vidas importam;

 

11. Infelizmente, a fábrica da comoção colectiva contra actos de barbárie tem seguido as regras da espectacularização da cobertura mediática, dando-lhes ou não proximidade consoante certos interesses ou linha editorial; 

 

12. A indiferença perante a barbárie,aconteça ela onde acontecer, será a primeira derrota da democracia contra o medo e obscurantismo;

 

 

O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda propõe que a Assembleia Municipal de Lisboa, na sua sessão de 14 de Abril de 2015, delibere:

 

 

  1. Manifestar solidariedade às vítimas, às suas famílias e ao povo queniano,
  2. Manifestar veementemente o seu repúdio contra os atentados de Garissa;
  3. Condenar de forma inequívoca todas as formas de violência e a qualquer ofensa à liberdade de expressão e de culto e me qualquer parte do mundo;
  4. Condenar a instrumentalização política da identidade, da liberdade de culto, rejeitando qualquer tentativa de imposição e/ou negação cultural pela violência;
  5. Condenar a indiferença ao sofrimento humano e reafirmar a universalidade da dignidade humana e a necessidade de a defender em qualquer parte do mundo.

 

O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda

 

Lisboa, 14 de Abril de 2015