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"Precisamos de mais esquerda na Câmara de Lisboa"

A candidatura do Bloco à autarquia da capital escolheu o dia de Santo António para apresentar as linhas gerais do programa. Num terraço do Chiado, João Semedo deu a conhecer as prioridades da candidatura, destacando a resposta ao problema da habitação, responsável pela "expulsão da cidade dos seus jovens e das famílias de menores recursos". Semedo apontou os dois erros da política que tem sido seguida até aqui: a aposta no mercado de venda em detrimento do mercado de arrendamento e a aposta na construção nova em detrimento da reabilitação. E afirmou que "este é o maior fracasso da política de António Costa".

"A grande aposta de António Costa foi a criação de um Fundo Imobiliário, que visava entregar os melhores terrenos da cidade a privados. Esse fundo é hoje um flop confirmado e certificado. Mas mesmo que não o fosse, nunca deixou de ser a aposta errada", defendeu João Semedo. Para o candidato do Bloco, o outro erro do atual presidente da Câmara em matéria de habitação "foi confiar a reabilitação urbana àqueles que nunca fizeram essa escolha, sempre a contrariaram e não a desejam: os privados.

Para Semedo, este duplo fracasso na política de habitação da cidade é o que explica que António Costa apareça ao fim de seis anos de mandato - quatro deles com maioria absoluta - "com programas de reabilitação urbana tirados da cartola". "Não tendo nada para apresentar como política de estímulo à reabilitação urbana, o executivo que governa Lisboa há seis anos promete… que vai prometer", rematou o coordenador do Bloco antes de elencar as alternativas da sua candidatura: a criação de um Fundo Municipal para a Reabilitação Urbana, de uma Bolsa de Arrendamento e um Programa Municipal de Habitação. "Só assim será possível intervir no mercado da habitação, pressionando a baixa de preços, promovendo a opção pelo arrendamento e garantindo uma habitação digna a todos os cidadãos, sobretudo os de mais fracos recursos", garante o candidato. 

Em seguida, João Semedo apresentou propostas para uma "política integrada de mobilidade" que recuse a privatização, reduza as tarifas e introduza um passe intermodal e um bilhete único para todos os transportes da cidade. Para além disso, propôs recuperar os descontos nos passes para estudantes e idosos, roubados pelo atual Governo, tal como as carreiras suprimidas nos últimos anos que deixaram os moradores sem alternativa. Para dar resposta à situação económica difícil de muitos munícipes, o Bloco quer trazer à agenda de campanha a proposta de um Programa de Emergência Social "que ataque as situações mais graves, entre as quais as dos sem abrigo, e a formação de uma Rede Solidária contra a solidão, o isolamento e a exclusão".

"Concorro a estas eleições porque estou convicto que algumas das escolhas de que vos falei só serão feitas se o Bloco for forte em Lisboa, forte na Câmara Municipal", declarou Semedo, defendendo ser "necessário de novo dar voz aos cidadãos" cujos movimentos "apagaram-se, ignorados ou esvaziados por quem os promoveu". O candidato do Bloco à Câmara da capital reagiu também ao anúncio da data das eleições para 29 de setembro, lembrando que "nunca houve autárquicas em setembro" e acusando o Governo de escolher "a data que lhe é mais conveniente, porque pretende que os eleitores não votem com todo o conhecimento daquilo que será o Orçamento do Estado para 2014 que por esses dias será conhecido".

Ana Drago: "Prioridade à habitação, transportes, proximidade com as pessoas e resposta social"

Ana Drago começou por destacar na sua intervenção as festas populares de Lisboa, que percorreu na véspera ao lado de João Semedo e outros militantes bloquistas, distribuindo pequenos manjericos com quadras alusivas à situação da cidade. Mas em todas as ruas desse percurso, sublinhou a candidata à Assembleia Municipal, encontraram edifícios abandonados e degradados "numa altura em que sabemos das dificuldades de encontrar uma habitação em Lisboa". Para a deputada bloquista, a responsabilidade deve ser pedida "aos sucessivos partidos que tiveram responsabilidades diretas nos executivos municipais e quando chega a altura das eleições vêm dizer-nos que agora é que isso se vai resolver".

Para além do tema forte da campanha - a habitação e reabilitação urbana -, Ana Drago falou da necessidade de manter as empresas de transportes públicos da cidade sob tutela pública, "que é coisa que António Costa não se compromete a fazer" quando o município recuperar o controlo hoje detido pelo Governo. "Habitação, transportes, proximidade com as pessoas e resposta social", assim resumiu Ana Drago o programa do Bloco, antes de lançar o desafio para a participação na procura de soluções e propostas para mudar a cidade. "Queremos ser parte da solução para os problemas antigos e novos de Lisboa", garantiu a candidata.

A apresentação da candidatura teve início com um poema lido pelo mandatário da candidatura, para falar da "esperança de vermos uma cidade melhor e um país melhor", longe das "políticas da cartilha liberal". Carlos Mendes agradeceu a João Semedo o convite para fazer parte da equipa que vai procurar trazer uma alternativa à esquerda no executivo municipal, e sublinhou que o coordenador do Bloco, "pelo seu percurso e pelo movimento que encabeça, é a voz mobilizadora e necessária para as lutas que travamos e iremos travar".

Sabe mais sobre o campanha do Bloco de Esquerda em http://www.queremoslisboa.org/