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Marcha do Orgulho LGBTI em Lisboa com afluência recorde

Foto: esquerda.net

Foram dezenas de milhares de pessoas a desfilar do Príncipe Real até à Ribeira das Naus na 20ª Marcha do Orgulho LGBTI de Lisboa. Cerca de 50 mil segundo a organização, número também avançado pela Secretária de Estado da Igualdade, Rosa Monteiro, que discursou no final. Uma mobilização histórica, que mais que triplicou os números do ano anterior. Um arco-íris de festa e também de protesto contra a discriminação que continua a existir no dia-a-dia, apesar de na lei Portugal estar hoje entre os países mais avançados.

Sob o mote "Ideologia de quê? O nosso género são os direitos humanos", um mar de gente encheu as ruas e chegou a tornar-se claustrofóbico, nos troços em que cruzou as artérias mais estreitas da descida para o Chiado. O ativista histórico da causa António Serzedelo declarou à Agência Lusa que "todas as lutas pela igualdade são inacabadas, estando a falar de direitos humanos" e advertiu que "na periferia, a discriminação é muito maior que na Lapa, no Chiado ou no Príncipe Real. Nas zonas periféricas não se pode andar de mão na mão".

Nos 50 anos de Stonewall, e com Nova Iorque a realizar este ano duas marchas diferentes devido a divergências quanto à comercialização e o papel das empresas no evento, a festa e a celebração misturou-se com a crítica e o protesto. "Capital, aprende: o orgulho não se vende!", ou "Com o pinkwashing, andamos para trás!", foram alguns dos cânticos que abordaram essa temática, ao lado de outros mais centrados no reconhecimento — "Sim sim sim, somos assim. Não não não, à discriminação", ou "A nossa luta é todo o dia. Gritamos contra o racismo, machismo e homofobia".

Presente no arranque da Marcha, Catarina Martins elogiou tudo o que se conseguiu conquistar no país nos últimos 20 anos nesta matéria, particularmente a nível de leis, mas considerou que para lá das leis o que importa agora é conquistar uma igualdade efetiva na prática do dia-a-dia. "Na sociedade as pessoas ainda não são iguais. Ainda há muita discriminação e é preciso lutar contra ela, pelos direitos de todas as pessoas e famílias a serem respeitadas", afirmou.

A coordenadora do Bloco congratulou-se com o facto de Portugal ser "do ponto de vista de lei, um dos países mais avançados" nos direitos LGBT. Mas há ainda "pessoas que não são respeitadas na rua, na escola, no sítio onde trabalham, por causa da sua orientação sexual — e isso não é admissível. Um país que leva os direitos humanos a sério é um país que respeita todas as pessoas".

Assinalando a grande mobilização aparente logo no início da marcha, Catarina congratulou-se com tudo o que se avançou em duas décadas: "São 20 anos de marchas. Quando as marchas começaram, era tão difícil falar destes temas. Quando o Bloco começou a falar dele, houve tanta desinformação, o debate por vezes era tão feio", recordou. Em 2019, "é importante perceber que isso mudou, ver que hoje há mais gente a compreender a necessidade de respeitar todas as pessoas", pois "a diversidade nunca deve ser matéria de preconceitos".

O grande número de gente presente na marcha "é um símbolo do que se conseguiu em 20 anos, mas também de que há mais para mudar, pois não basta sermos iguais na lei, é preciso também sermos iguais na sociedade", disse Catarina.

Já em desfile pelas ruas, a deputada Sandra Cunha mencionou os 50 anos de Stonewall e saudou também que se conseguiu nas últimas décadas: "em 20 anos em Portugal conseguimos alcançar conquistas enormes para a comunidade e as pessoas LGBT+, conseguimos consagrar na lei direitos iguais. Aquilo que nos falta agora é consagrar também na sociedade esses direitos iguais. Lutar contra a homofobia, a discriminação e a violência. Saímos com toda a energia, com toda a alegria, com toda a força até à revolução, em todas as marchas".

Veja a fotogaleria da Marcha.

Artigo originalmente publicado em Esquerda.net a 29 de Junho, 2019 - 20:16h