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Prédios da Fidelidade: senhorio oculto, moradores na incerteza

Foto de Leandro Neumann Ciuffo/Flickr.

Sujeitos ao medo de um despejo e a senhorios misteriosos, os moradores dos prédios da Fidelidade continuam a viver em incerteza quanto ao futuro. Esta semana, alguns receberam cartas a inquirir o seu interesse em adquirir os seus imóveis, segundo revela o jornal Público.

Conforme o esquerda.net referiu há duas semanas, após a venda em 2014 pelo governo Passos Coelho da Fidelidade à chinesa Fosun, e a posterior venda por esta de 271 prédios da Fidelidade ao fundo americano Apollo, os moradores destes prédios viram-se envolvidos num carrossel de offshores. Os senhorios nominais são uma de quatro empresas portuguesas (Meritpanorama, Fragrantstrategy, Notablefrequency e Neptunecategory) que pertencem a outras empresas sediadas no Luxemburgo, que por sua vez pertencem a outras sediadas nas ilhas Caimão. A cadeia termina num edifício neste paraíso fiscal, a Ugland House, sede de mais de 20 mil empresas, que ganhou notoriedade quando Barack Obama o considerou o maior esquema de evasão fiscal do mundo, e que continua a funcionar.

Segundo apurou o Público, a Meritpanorama está a tentar entender a quais inquilinos poderá vender os imóveis, enquanto a outros continua a enviar cartas de não-renovação dos contratos, sobretudo aos não abrangidos pelo regime transitório que protege de despejo pessoas idosas ou com deficiência, em vigor até final de março.

Na carta da Meritpanorama pode ler-se: “Se decidir tornar-se proprietário, esta será uma fantástica oportunidade e, como arrendatário, permitir-lhe-á acordar um preço razoável sem as pressões de propostas concorrentes”. A empresa sugere uma instituição financeira junto da qual diligenciou "uma linha de crédito (sujeita a aprovação de crédito) para auxiliar na aquisição do imóvel”. Ao mesmo tempo, não se considera "obrigada a aceitar qualquer oferta que lhe seja dirigida, e reserva-se no direito de não entrar em negociações ou a terminar em qualquer momento as discussões no contexto desta carta”.

Os moradores mostram-se incertos e confusos quanto às intenções da empresa. Uma moradora no Dafundo declarou ao Público: “O envio desta carta só serve para confundir os moradores. Não se fala de valores, não se fala de datas, não se fala de nada. Há quem tenha escrito [à empresa], mas também não tiveram resposta”.

A Apollo, inquirida sobre o assunto, não quis prestar declarações nem esclarecimentos. Segundo apurou o Público, muitos inquilinos já saíram das suas casas após não terem visto o contrato renovado, e as frações vazias assim têm ficado, mesmo após outros moradores terem manifestado interesse em arrendá-las.

Artigo originalmente publicado no Esquerda.net, 28 de Fevereiro, 2019 - 22:14h