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Façamos de Lisboa uma cidade onde é fácil viver

Rita Brutt é atriz e mandatária da Juventude do Bloco de Esquerda

Nasci e cresci em Lisboa, das muitas cidades que visitei e, onde poderia ter escolhido viver, escolhi e tornei a escolher Lisboa.

É a minha cidade preferida.

Lisboa não é só o Chiado ou Alfama, é toda diferente, complexa e diversa. Das margens do rio Tejo elitistas, com hotéis de 5 estrelas e grandes (e importantes) Institutos de investigação, ao Cais do Sodré onde dorme gente na rua ou ali perto da Estação de Santa Apolónia ou na Almirante Reis...ou em tantos outros sítios.

Lisboa é, para mim, necessariamente jovem, mesmo que seja antiga.
É uma cidade cheia de universitários, de bairros típicos onde estudantes portugueses e estrangeiros alugam, dividem casas e não se importam de subir as colinas, a pé ou a pedalar.

Tenho pena que a maioria dos lisboetas desertem para a periferia, para lá da IC19. Não fossem as rendas tão caras, poderiam ficar na sua própria cidade e habitar-lhe o centro, passando assim menos horas no trânsito e se a rede de transportes o permitisse, deixar o carro para os passeios de fim-de-semana, para fora da cidade...

Há pessoas que trabalham em Lisboa e que não a gozam, não conhecem os teatros, as galerias, os jardins, os poucos cinemas de rua que nos restam, se pudessem aqui viver, talvez chegassem a casa uma hora mais cedo e ainda tivessem tempo de dar um giro, ver qualquer coisa, cruzar-se com gente. A IC19 leva-nos para as rendas mais baratas mas para um tipo de vida que sai, muitas vezes, cara.

É uma cidade que, apesar das grandes superfícies existirem, o comércio tradicional foi resistindo ( a grande custo ) e tentou sempre reinventar-se...que incentivos poderão ainda ajudar o pequeno comércio, o de rua, que é único e indispensável para a identidade de uma cidade, a continuar a crescer?  

E os mercados? Dá-me tanto prazer passear pelo mercado de Campo de Ourique ou pelo da Ribeira e dividir a despesa entre o peixinho fresco, as nabiças daqui, da zona de Sintra, haverá maior sustentabilidade do que comprar o que se sabe ser já daqui do lado? E há cada vez mais banquinhas vazias nos mercados...dos que ainda não fecharam, claro! Podemos reanimá-los? Vendo neles novas oportunidades? Agora comprar legumes de qualidade é um luxo...os mais baratos estão nos sítios do costume é certo, mas não são a mesma coisa, nem apoiam os pequenos produtores. Poderia haver espaço para todos, nesta cidade tão petisqueira?

Viver no centro para mim, é estar perto do trabalho, quando estou no teatro e vou a pé, é poder passar pelas lojas do meu bairro e comprar o que preciso, é meter-me no metro ir ver uma exposição e demorar-me a voltar porque há música no Martim Moniz ou no Adamastor onde todos os pores-do-sol são diferentes ( que é feito daquele Palácio de Santa Catarina, continua fechado?).

Deveria ser fácil para os jovens viver em Lisboa.

Reabilitem-se os prédios devolutos, criem-se projectos, artísticos e não só,planos de negócio, agilize-se a burocracia e devolva-se a cidade às pessoas, a cidade tem infraestruturas e as pessoas têm ideias. Há tantos arquitectos desempregados e tantas empresas de construção civil sem trabalho, façam-se parcerias e concursos.

Façamos de Lisboa uma cidade onde é fácil viver.

Sabe mais sobre o campanha do Bloco de Esquerda em http://www.queremoslisboa.org/