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Bloco exige reposição dos passes para estudantes e séniores

As pessoas em Portugal já são das que mais pagam pelos transportes públicos na Europa

As pessoas em Portugal já são das que mais pagam pelos transportes públicos na Europa: o passe social pesa o dobro nos rendimentos médios do que pesa em Bruxelas ou Atenas e o Metro de Lisboa é mais caro, em valores absolutos, do que o metro de Roma. Com este governo, em apenas um ano, a despesa média das famílias com os passes aumentou 100%. O “visto familiar”, inscrito no programa do governo, é uma anedota trágica.

Toda a política do governo para os transportes públicos tem sido desastrosa. O aumento vertiginoso dos preços dos passes sociais foi acompanhado por uma diminuição drástica dos utentes dos transportes públicos. Em 6 meses, no Porto, a STCP perdeu 6 milhões de passageiros e o Metro 2,3. Em Lisboa, entre janeiro e junho de 2012 a Carris perdeu 25 milhões de passageiros e o Metropolitano 5,9. A CP perdeu já 6 milhões de passageiros.

O Governo não só aumentou tarifários como atacou os descontos especiais dedicados a crianças, jovens e idosos. Os passes 4-18, sub 23 e sénior começaram por ver o seu preço aumentar 50% para finalmente serem negados à esmagadora maioria da população.

Os alunos em Portugal tinham acesso ao passe “4-18”, mais direcionado para alunos que frequentam a atual escolaridade obrigatória, e o passe “sub-23”, destinado aos estudantes do ensino superior. Estes passes, que tinham uma redução de 50% face ao preço regular, foram primeiro alvo de uma diminuição por parte deste governo para apenas 25% de desconto, com consequências graves na mobilidade destas crianças e jovens, incluindo abandono escolar. Não satisfeito com os danos causados por esta medida, o governo introduziu, no início do corrente ano letivo, uma regra que altera profundamente o enquadramento dos passes destinados aos estudantes. Os passes para estudantes vão ter descontos que variam entre os 25% e os 60%, mas só poderão ser requeridos por crianças e jovens de famílias cujo rendimento médio mensal seja igual ou inferior a 503 euros.

Com as novas regras, que anulam o conceito de passe social, as crianças e jovens entre 4 e 18 anos que sejam beneficiárias do escalão A de Ação Social Escolar, bem como os estudantes até 23 anos que beneficiem de Ação Social Escolar no Ensino Superior, terão descontos de 60 por cento. O escalão A de Ação Social Escolar corresponde então ao escalão 1 do Abono de Família e destina-se a famílias com Rendimento de Referência até 2934,54 euros. Assim, por exemplo, para que um casal com dois filhos dependentes seja incluído neste escalão, o salário mensal de cada elemento do casal terá de ser inferior a 315 euros, um valor muito inferior ao salário mínimo nacional.

Já as crianças e jovens beneficiárias do escalão B da Ação Social Escolar (com rendimento de referência entre os 2.934,55 e os 5.869,08 euros) terão direito apenas a 25 por cento de desconto no passe. Para aceder ao escalão B da Ação Social Escolar, um casal com dois filhos dependentes não pode ganhar mais do que 1258 euros por mês. Por fim, todas as crianças e jovens inseridas em famílias com escalão social + (famílias cujo rendimento médio mensal equivalente é igual ou inferior a 1,2 vezes o valor do Indexante dos Apoios Sociais, ou seja, cerca de 503 euros) beneficiam também de desconto de 25 por cento. Ou seja, mesmo as famílias que o governo reconhece como as mais pobres, têm um aumento de 50% no preço dos passes das suas crianças e jovens, em relação ao início do ano letivo passado.

Com estas novas regras, o governo deixou cair a ideia de um passe social para estudantes enquanto contributo à igualdade no acesso à escolaridade e formação. Ficou apenas o critério da caridade. E mesmo aqui, bem avaro.

À realidade das crianças e jovens que vêm a sua mobilidade e a deslocação para a escola transformar-se num luxo, junta-se o ataque aos mais velhos. Segundo dados da Carris, com a alteração das regras para os passes sénior, mais de 40 mil idosos da Grande Lisboa deixaram de comprar o passe terceira idade no primeiro semestre de 2012. Ao aumentar 50% o preço do passe para os maiores de 65 anos, o governo contribui para o maior isolamento das pessoas idosas, pessoas na sua grande maioria já vítimas de isolamento e com mobilidade reduzida.

 

Assim, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda propõe que a Assembleia da República recomende ao Governo que, sem prejuízo de outros apoios à mobilidade para famílias e pessoas em situação de especial fragilidade económica, reponha:

  1. Os passes 4-18, com descontos de 50% face ao tarifário normal, para todas as crianças e jovens entre os 4 e os 18 anos.

  2. Os passes sub 23, com descontos de 50% face ao tarifário normal, para todos os jovens estudantes entre os 18 e os 23 anos;

  3. Os passes sénior, com descontos de 50% face ao tarifário normal, para todas as pessoas a partir dos 65 anos.