IVA A 23% ARRASA O SECTOR DA RESTAURAÇÃO
O governo PSD/CDS, ao procurar demonstrar à Troika o seu comportamento
exemplar e empenhado no cumprimento das suas ordens, decidiu impor no sector
da restauração, a partir de 1 de janeiro de 2012, a taxa do IVA de 23%, incluindo esta
medida no Orçamento de Estado. Em 2011, aquando desta discussão, o BE apresentou
uma contra proposta que defendia a manutenção da taxa do IVA nos 13% mas que foi
chumbada pela maioria PSD/CDS.
Como é do conhecimento público, foram várias as organizações representativas deste
sector que alertaram para as implicações danosas da medida então aprovada – as
falências, o desemprego e consequentemente o agravamento da situação social. A
AHRESP lançou mesmo uma petição contra esta medida.
As piores previsões confirmaram-se! Nos últimos meses, milhares de estabelecimentos
encerraram portas e outros confrontam-se com a redução considerável do número
de refeições servidas. A diminuição da faturação de um número expressivo de
restaurantes influenciou igualmente o decréscimo das receitas indiretas do Estado
durante o 1º quadrimestre de 2012, muito em particular por causa do IVA.
Mais preocupante ainda, é o facto de milhares de micro e pequenos empresários
da restauração não terem conseguido pagar o IVA do 1º trimestre. Para além dessa
dívida, acumulam uma multa de 20% do total da verba correspondente ao IVA em
falta, regra aplicada de forma cega a quem não liquidar esse pagamento na data
prevista, que neste caso, terminou a 15 de maio.
É do domínio público que o número de refeições servidas nos estabelecimentos de
restauração há muito que tem vindo a cair, razão pela qual de uma forma geral, os
comerciantes, apesar do aumento do IVA, mantiveram o preço das doses, receando a
redução ainda maior da venda de refeições.
Note-se que, para além dos aumentos verificados em quase todos os produtos, com
destaque para a electricidade e o gaz , este sector tem um vasto conjunto de despesas
fixas que obrigam a uma ginástica permanente. Lembramos algumas:
- pagamento aos municípios das taxas de painéis de publicidade exterior, de ocupação
de espaço público com esplanadas e corta ventos;
- pagamento à SPA, sempre que existe música ambiente e/ou ao vivo;
- formação obrigatória na área do HACCP (higiene e segurança alimentar) e
contratação de um serviço exterior para assessorar estas áreas, pois entre várias
matérias, estes estabelecimentos são obrigados a apresentarem um relatório único,
anualmente;
- pagamento a serviços de contabilidade;
- contratação de serviços de desinfestação;
- recolha de óleos;
- dois pagamentos especiais por conta, feitos anualmente ao Estado.
- etc., etc..
Até ao pagamento do 3º trimestre de 2012, que decorrerá em Novembro, a previsão
é catastrófica: muitos outros micro e pequenos empresários terão acumulado dívidas
cujos valores serão incapazes de resgatar e, ameaçados pela crise, o desemprego
poderá vir a ser o único caminho.
Note-se que muitos dos pequenos restaurantes são de características familiares
e quando encerram, o desemprego atinge mais do que um elemento da mesma
família; e enquanto trabalhadores por conta própria, não têm acesso ao fundo de
desemprego!
A situação em Alcântara não é diferente da que se vive noutros locais da cidade e do
país. Conversámos com alguns comerciantes e de forma recorrente, manifestaram
fortes preocupações com esta situação, confirmando o cenário dramático vivido na
restauração; apreensivos em relação ao futuro. Houve mesmo quem tivesse admitido
ter de fechar as portas no final de 2012.
Algumas vozes de direita já perceberam o erro desta medida e já reclamam a sua
revisão, como aconteceu recentemente com a Dra. Manuela Ferreira Leite. Mas o
governo, na ânsia de explorar e penalizar quem trabalha, não quer ver a realidade,
nem parece querer ceder. Só o protesto e a luta podem obrigar o governo a ceder.
Sabemos que o BE e outras forças de esquerda continuarão a dar eco à exigência
dos micro e pequenos empresários da restauração, As comunidades locais também
poderão ter um papel importante na denúncia e no apoio e esta luta para que
seja reduzida a taxa de IVA na restauração e bebidas, dinamizando dessa forma a
economia, o turismo e o emprego.