Lisboa e os/as lisboetas puderam tomar conhecimento, através da exposição “9 Ideias – Parque Praça de Espanha”, que esteve patente na Fundação Calouste Gulbenkian, dos projetos apresentados para o denominado Parque Urbano da Praça de Espanha.
Seriam boas notícias para Lisboa, não fosse o facto de os projetos encomendados e apresentados serem apenas parte de uma lamentável reviravolta urbanística previamente definida pela Câmara para aquela Praça.
O que devia ser um importante projeto de ligação dos jardins da Gulbenkian a Monsanto, através de um corredor verde contínuo, e a criação de um pólo cultural aglutinador dos diversos espaços culturais já existentes (Palácio Palhavã, Fundação Calouste Gulbenkian, Teatro Aberto, Comuna - Teatro de Pesquisa), poderá transformar-se em mais um pesadelo urbanístico, disfarçado por um novo ajardinamento para enquadrar novas construções de grande dimensão.
O que pretende a Câmara:
1. Autorizar a construção de grandes edifícios numa zona residencial (8/10 pisos no Bairro do Rego/Av. Santos Dumont/ Av. de Berna e 20/25 pisos na Av. Columbano Bordalo Pinheiro), autênticas barreiras com grande impacte visual que provocarão alterações profundas na vivência dessas zonas residenciais traduzida, com sobrecarga da circulação e mais constrangimentos ao estacionamento;
2. Eliminar a placa giratória da Praça de Espanha e substitui-la por dois eixos rodoviários com 6 e 8 faixas (Av. Columbano Bordalo Pinheiro/ Av. Santos Dumont e Av. Calouste Gulbenkian/ Av. Berna) atravessados por um eixo mais largo que, em determinado troço, chega a atingir 10 faixas de rodagem (Av. António Augusto de Aguiar/ Av. dos Combatentes) com tudo o que isso acarreta de ruído, poluição, descontinuidade e desconforto;
Com este projeto, a Praça de Espanha seria uma oportunidade perdida para criação de um novo corredor verde e de um grande polo cultural, em vez de mais imobiliário para escritórios à custa da qualidade de vida dos Lisboetas.
Lamentamos que:
(i) esteja a ser ocultada a real dimensão e a totalidade das intenções da CML para a Praça de Espanha;
(ii) não haja uma discussão pública acerca da explosão urbanística que ocorreria, desde o aumento e congestionamento do fluxo de tráfego, de maiores problemas de estacionamento, da alteração e despersonalização da paisagem urbana com a edificação de imóveis com dezenas de pisos, até à inviabilização de um verdadeiro corredor verde e de um pólo cultural.
Muita coisa oculta sob a capa de um anunciado parque urbano que mais não será do que o logradouro de novos negócios imobiliários.
Exige-se, assim, que a CML lance novo concurso público de ideias para um verdadeiro Parque Urbano da Praça de Espanha que tenha como objetivo o estabelecimento de um grande corredor verde contínuo Gulbenkian/Monsanto e de um pólo cultural aglutinador e interativo entre os equipamentos já existentes. A qualidade de vida urbana não pode estar refém dos interesses imobiliários.