Em 2017, Lisboa tinha cerca de 23 mil quartos em regime de alojamento local (AL), 2,8 vezes mais, ou quase o triplo, do número que havia dois anos antes. Em comparação, os hotéis tinham 21 mil quartos. Alargando da cidade para a região de Lisboa, as cifras subiam para 34 mil quartos em AL e 30 mil na hotelaria. Números de um novo estudo sobre o impacto económico do turismo na região da capital, realizado pela consultora Deloitte para Associação de Turismo de Lisboa (ATL) e revelado pelo Jornal de Negócios.
Estes 64 mil quartos acolheram em 2017 9,7 milhões de pessoas. 3,2 milhões delas escolheram estabelecimentos de AL, uma subida de 88% face aos 1,7 milhões que o haviam feito em 2015. 6,2 milhões preferiram os hotéis, uma subida mais moderada de 17%. Desta massa de visitantes da capital e região circundante, que está próxima de igualar a população do país, quase 400 mil eram brasileiros, um grupo que cresceu 43% e se tornou no maior contingente. Após o Brasil, França e Espanha mantêm-se como os principais mercados emissores de turistas. Os turistas provindos dos EUA também cresceram fortemente para 317 mil, mais 56%.
Esta expansão acelerada teve logicamente expressão num aumento de receitas do AL, que subiram 93% para 240 milhões de euros. Apesar desta quase duplicação de receitas, como o número de quartos subiu ainda mais, a receita média por quarto desceu. Divindo a receita pelo número de quartos, cada quarto em AL terá rendido em média perto de 7100 euros ao longo do ano de 2017. Já os estabelecimentos hoteleiros, apesar de terem menos quartos, conseguiram deles retirar 856 milhões de euros, ou perto de 29 mil euros por quarto, uma subida de 38% face a 2015. Parte destas receitas dos hotéis vão para despesas em pessoal e manutenção, que são maiores que no AL. Mas no cômputo geral, a hotelaria não parece estar a sofrer com a concorrência do AL: o preço médio do quarto de hotel subiu de 83 para 100 euros, a receita por quarto disponível cresceu 30% para 77 euros, a taxa de ocupação subiu de 72% para 78%.
Apesar de sinais de abrandamento em 2018, período que este estudo não abarca, o setor continua a ter razões para se regozijar. José Luís Arnaut, vice-presidente da ATL, sublinhou isso mesmo, enfatizando que o turismo representa agora 10 mil milhões de euros de receitas, quase 20% do PIB da região de Lisboa (o dobro de 2014), e perto de 180 mil postos de trabalho (quase 100 mil na cidade).
O outro lado deste boom e os problema que levanta — bolha imobiliária, expulsão de habitantes da cidade, gentrificação, monofuncionalidade turística — fica para outros considerarem. Manuel Grilo, vereador do Bloco na câmara de Lisboa, instou recentemente a que se aplicassem as quotas-limite ao alojamento local que tardam em avançar, antes que algumas zonas da cidade sigam o exemplo de Alfama.