O projeto de instalação de um funicular entre a Mouraria e o miradouro da Graça "vai destruir quase por completo uma estrutura medieval única no país: o alambor da Muralha Fernandina", noticia o Público online.
Segundo a conclusão dos técnicos da Direção-Geral do Património Cultural, a versão revista do projeto, que o vereador Manuel Salgado foi obrigado a submeter depois do Bloco revelar o problema na Assembleia Municipal de Lisboa, não só não evita danos como a destrói por completo.
Um alambor é uma rampa inclinada construída na base de uma muralha com o objetivo de dificultar as ações militares inimigas. Devido às suas características e materiais utilizados na sua construção, são elementos frágeis e raros.
O alambor foi descoberto em 2016 durante as escavações arqueológicas necessárias para construção do funicular. O Bloco de Esquerda apresentou na altura um requerimento (em anexo) para proteger o local, o que obrigou Manuel Salgado a uma revisão do projeto que mereceu, na altura, aprovação da DGPC.
No entanto, segundo o Público, o projeto de especialidades entregue pelo arquiteto João Favila Menezes e por Manuel Salgado não protege o alambor. No despacho de não aprovação, os serviços da DGPC consideram "lamentável que o projeto de arquitetura não regista e represente o troço da Muralha Fernandina, e respetivo alambor, classificado como Monumento Nacional, e que será afetado pela intervenção proposta".
Em concreto, "a muralha e o alambor não estão representados nas plantas específicas da zona de chegada [do funicular] ao miradouro" e lembra que "o projeto continua a não ser acompanhado por relatório prévio/intercalar conforme legislação em vigor".
Por seu lado, o parecer arqueológico considera que "o arquiteto projetista continua a não assumir clara e frontalmente o grau de afetação que a sua proposta impõe à integridade patrimonial" da muralha e do alambor, estimando que 75% a 80% do alambor será destruído.
Sucede que a muralha fernandina é classificada como Monumento Nacional, o que impede legalmente uma intervenção desta dimensão.
Ao Público, o executivo municipal insiste apenas que a "solução alternativa não afeta a referida estrutura arqueológica". O arquiteto João Favila diz apenas que "estamos a estudar qual é o tipo de afetação".
Artigo originalmente publicado em Esquerda.net a 26 de Abril, 2017 - 14:59h