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Pimenta grega nos olhos da Europa é colírio para a Alemanha

Estimados leitores,

A Grécia anda nas bocas do mundo.

Esses devedores descarados, que querem pôr a economia portuguesa (vá-se lá saber porquê embirram connosco) de rastos. Esses ingratos, a quem Portugal fez tantas doações, como salientou Cavaco Silva, como se a Grécia estivesse de mão estendida à porta do Metro.

Esse país que inventou a palavra democracia (derivada de “demos” - povo – e “kratos” – poder), e dele se quer servir. Esse canto do globo que está a braços com uma dívida inimaginável. Esses caloteiros, os piores desde que o calote foi inventado (data incerta). Essa corja, que está finalmente a sentir na pele o que é “sentir-se grego” para cumprir um objetivo.

A Alemanha, feroz guardião dos bons costumes políticos, económicos, sociais, raciais e outros que tais, está a fazer finca-pé em que esses terroristas das finanças paguem o que devem, mesmo que não possam, mas sobretudo se não puderem. As propostas gregas não são “substanciais”, a inflexibilidade alemã sim. É a política do “batam-lhes quando estiverem em baixo”, essa tática do bullying financeiro, que impede que quem quer cumprir, mas tem limitações, o faça, permitindo assim que perca todo e qualquer controlo sobre o seu destino. O que Hitler não conseguiu pela força das armas, está a Alemanha do séc.XXI a tentar pela força do euro.

Diria mesmo que os gregos que se acautelem, e guardem bem os dentes de ouro. Mas, pasmem-se. Ilustrando ad infinitum e ad nauseam esse ditado brasileiro que eloquentemente afirma que “pimenta no olho dos outros é colírio”, a Alemanha esquece-se das suas dívidas no passado, e do que o mundo fez para evitar que mergulhassem no esgoto para onde se dirigiam, se então a atitude dos Estados Unidos, por exemplo, tivesse sido a mesma. E que fonte será melhor do que a própria Alemanha, para saber detalhes?

Quem mais insuspeito do que o “Der Spiegel”, onde se pode ler uma entrevista com um historiador Alemão, Albrecht Ritschl, em 2011, neste link, e cuja leitura se recomenda a Cavaco Silva, Passos Coelho, Wolfgang Schäuble, e outros acérrimos defensores da Alemanha “ubber alles”: http://www.spiegel.de/international/germany/economic-historian-germany-was-biggest-debt-transgressor-of-20thcentury-a-769703.html

Algumas pérolas, numa tradução livre de alguns blocos do texto:

1) A Alemanha é rei no que toca a dever. Calculando com base nas perdas comparadas com a performance económica, a Alemanha é o maior transgressor (em termos de dívidas) do séc. XXI.

2) (…) O perdão da dívida alemã nos anos 30 teve um peso semelhante ao da crise financeira de 2008. Em comparação, os problemas atuais de pagamento da Grécia são insignificantes.

3) (…) Durante o século passado, a Alemanha esteve insolvente pelo menos três vezes. Depois do perdão parcial dos EUA em 1953, reduzindo a dívida alemã a quase zero, o país ficou numa ótima situação uma vez que o resto da Europa teve de sofrer e pagar as consequências da guerra e da ocupação da Alemanha, que teve inclusivamente um periodo de não-pagamento (“default”) em 1990 (ao não cumprir os acordos de Londres, que estipulavam a renegociação dos pagamentos devidos pela Alemanha, em caso de reunificação). 4) A atitude mais sensata seria uma real redução da dívida. Qualquer um que tivesse emprestado dinheiro à Grécia teria de abdicar de parte considerável desse empréstimo (...) Para a Alemanha seria dispendioso (...) mas pelo menos a Grécia teria uma possibilidade de recomeçar.