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Voto 012/07 (BE) - Pesar pelo falecimento de João Varela Gomes

Agendado: 27 de Fevereiro de 2018
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Publicação em BM:

PESAR PELO FALECIMENTO DE JOÃO VARELA GOMES

Morreu em 26 de Fevereiro de 2018, aos 93 anos, o Coronel João Varela Gomes. Nascido em Lisboa em 25 de Maio de 1924, Homem de profundas convicções e de grande coragem física e moral, lutou contra a ditadura de Salazar e Caetano, envolvendo-se nos golpes da Sé, em 1959, e de Beja, na viragem de ano de 1961 para 1962, juntamente com o Coronel Eugénio Oliveira e Manuel Serra, entre outros.

Gravemente ferido na madrugada de 1 de Janeiro de 1962, foi-lhe extraído um rim e o baço, ficando então a sua vida em perigo e sendo por diversas vezes objecto de intervenções cirúrgicas no período passado na prisão que se haveria de seguir.

No decorrer do Golpe de Beja, foi detido e posteriormente julgado e condenado em Tribunal Plenário, estando preso durante seis anos e sendo ainda expulso do Exército. Do seu julgamento no Tribunal Plenário da Boa Hora, em 1964, destaca-se a sua postura firme, afirmando perante os juízes “Que outros triunfem onde nós fomos vencidos”, não se vergando ao medo de um regime arbitrário e do seu tribunal de excepção. Foi condenado a 6 anos de prisão, integralmente cumpridos.

De igual forma teve parte activa nas candidaturas da oposição democrática, fosse apoiando a candidatura presidencial do Marechal Humberto Delgado, em 1958, fosse como candidato nas listas da oposição democrática às eleições para a Assembleia Nacional em 1961.

Cumprida a pena de prisão, Varela Gomes estava impedido de regressar ao Exército e viveu com a sua mulher, Maria Eugénia Varela Gomes, novas lutas que originaram a prisão desta e dos filhos de ambos, situações que ocorreram até à eclosão do 25 de Abril de 1974.

Reintegrado no Exército Português, com a patente de Coronel, após o 25 de Abril de 1974, viveu esse período fiel às suas convicções, tomando parte activa em todo o processo subsequente, destacando-se nas campanhas de alfabetização e na mudança do nome da “Ponte Salazar” para “Ponte 25 de Abril”, ainda que a descoberto de qualquer decisão oficial, com a colaboração de funcionários da SOREFAME.

Varela Gomes teria de se exilar em Angola e Moçambique após o 25 de Novembro de 1975. Regressado a Portugal em 1979, e depois de suspenso administrativamente do Exército Português, haveria de ser novamente reintegrado formalmente por decisão do Supremo Tribunal Administrativo em 1982, mas não voltaria ao activo, passando antes à reserva.

Nas palavras de Manuela Cruzeiro, Varela Gomes “escolheu o caminho da coragem e da dignidade, ontem contra o fascismo, hoje contra a quietude endémica, a indiferença e o cepticismo político e ideológico de uma democracia que não hesita em chamar filofascista. Com uma independência e uma frontalidade a toda a prova, continua o seu combate solitário, quase quixotesco, através de textos livres, indignados, provocatórios, que teimam em furar o cordão sanitário do politicamente correcto, da aceitação passiva de que não há alternativa”.

De Varela Gomes resta sobretudo a memória de um Homem generoso e comprometido com os seus ideais de progresso e de luta pela libertação de Portugal do jugo do regime de Salazar e Caetano, sem que para isso olhasse às consequências das obrigações ditadas pela sua consciência. A João Varela Gomes devemos também a nossa Liberdade.

Assim, a Assembleia Municipal de Lisboa, reunida em 27 de Fevereiro de 2018, delibera, ao abrigo do artigo 25.º, n.º 2 alíneas j) e k) do Anexo I da Lei n.º 75/2013, de 12 de Setembro:
1. Prestar a sua homenagem à memória de João Varela Gomes, expressando o seu pesar à família e fazendo um minuto de silêncio em sua homenagem;
Lisboa, 27 de Fevereiro de 2018
As deputadas e os deputados municipais, eleitos pelo Bloco de Esquerda,

Isabel Pires
Rui Costa
Ricardo Moreira
Tiago Ivo Cruz

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