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Um estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde

O mais recente debate quinzenal foi marcado por um episódio que “causou um enorme bruá na sala”, para usar os termos exatos de alguma comunicação social. O caso não era para menos. A atual líder do CDS, Assunção Cristas, por estes dias também candidata à Câmara Municipal de Lisboa, lembrou-se de defender o alargamento da rede do Metro de Lisboa em 20 estações.

Mesmo aos mais distraídos não passará ao lado que a presidente do CDS-PP integrou um governo que procurou à viva força concessionar o Metropolitano de Lisboa a grupos empresariais privados. Mais, neste caso em concreto, o esforço privatizador veio diretamente do Largo do Caldas, ou não tivesse o ministro da tutela sido António Pires de Lima, um destacado companheiro de partido.

Para cumprir esse objetivo, o governo das direitas montou uma concertada operação de desinvestimento com graves consequências para o serviço público de transporte.

Ainda hoje não existem trabalhadores suficientes nas oficinas para garantir a manutenção do material circulante, faltam maquinistas para conduzir as carruagens, o número de carruagens em circulação diminuiu e o serviço prestado piorou a olhos vistos: as avarias são recorrentes, o tempo de espera está em máximos históricos e a sobrelotação das carruagens, nas horas de ponta, é um dado adquirido.

No Metro de Lisboa, a direita deixa ao país uma desastrosa herança e é bom recordar que, durante o seu mandato, não avançou com um único projeto de nova estação.

É caso para se dizer de que se trata de um estranho e grave caso de Mr. Jekyll e Dr. Hyde: Assunção Jekyll é a candidata que tenta lavar a face do que foi sua responsabilidade e, generosa, vem agora apresentar um plano de expansão da rede de Metro, reciclado de um outro de 2009. Assunção Hyde é a ex-ministra de um governo responsável pela degradação do serviço.

Assunção Jekyll aproveita todos os momentos para fazer a sua campanha autárquica e isso inclui debates quinzenais com o primeiro-ministro, como é doce estar na oposição. Mas, sempre que o faz, volta a memória de Assunção Hyde que integrou o executivo PSD/CDS, que governou o país com o rolo compressor da austeridade europeia.

Entre as duas, quem vive em Lisboa sabe bem o que acontece no fim: muita promessa eleitoral e nenhum resultado na ação governativa. A coerência nunca foi uma característica muito estimada pelos lados de CDS-PP, Assunção Cristas limita-se a honrar a tradição partidária.

Do lado do Bloco de Esquerda continuaremos a defender um plano de transportes públicos coerente para a Área Metropolitana de Lisboa, que leve o Metro para onde ele é preciso, como é o caso da Zona Ocidental da cidade de Lisboa. Sem duas faces nem duas personalidades.

Artigo originalmente publicado em Esquerda.net a 18 de Maio, 2017 - 10:57h