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“Não podemos discutir só a ciclovia, temos de discutir a mobilidade”

Debate sobre mobilidade em Lisboa e a ciclovia da Almirante Reis. Foto Esquerda.net

O presidente da Câmara de Lisboa anunciou na semana passada que pretende acabar com metade da ciclovia da Avenida Almirante Reis e assim repor parte do espaço destinado ao tráfego automóvel naquela artéria do centro da cidade. Tanto as participantes convidadas para sessão pública que o Bloco organizou no domingo no Largo do Intendente como a vereadora Beatriz Gomes Dias e a deputada municipal Isabel Pires convergiram na ideia de que a alteração proposta por Carlos Moedas é um enorme erro para aquela zona e mesmo para toda a cidade.

 

A investigadora em mobilidade urbana Rosa Félix afirmou na sua intervenção que a maioria das viagens na cidade de Lisboa são de menos de cinco quilómetros e que são feitas de automóvel sem ser necessário. Muitas das viagens são para levar as crianças à escola, pelo que se torna necessário garantir um sistema de transportes públicos robusto que também responda a vários públicos.

 

Patricia Melo, docente no ISEG, esclareceu que a mobilidade deficiente que se encontra na Área Metropolitana de Lisboa é reflexo de más opções urbanísticas, com uma baixa densidade populacional, que torna os sistemas de transportes públicos menos eficazes. E apontou um erro grave no PDM de Lisboa: "a obrigatoriedade de novos prédios terem estacionamento encarece o preço das casas e traz mais carros para a cidade. Isso tem de mudar,” alertou a investigadora em economia urbana e dos transportes.

 

Por seu lado, Miguel Baptista, dirigente da Mubi, afirmou que é essencial que a ciclovia da Almirante Reis se mantenha. “A solução de Moedas é mesmo má e o Presidente da Câmara faltou à verdade, porque nas sessões públicas a maioria das pessoas pediu menos ruído e menos poluição e não mais uma faixa de rodagem”, recordou o ativista desta associação que promove o uso da bicicleta como meio de transporte.

 

Para Beatriz Gomes Dias, este debate está armadilhado, dado que Carlos Moedas mobiliza o medo da população perder a mobilidade se existirem restrições à utilização do automóvel, quando na verdade a mobilidade numa cidade depende de uma rede de transportes públicos coletivos e de soluções de mobilidade suave. Para a vereadora do Bloco, a enorme manifestação de defesa da ciclovia um dia depois da tomada de posse do Presidente da Câmara de Lisboa foi um momento muito importante: "temos de usar essa força para defender uma Zona de Emissões Reduzidas também no eixo da Almirante Reis”, defendeu.